São diversas as motivações que podem levar um indivíduo a consumir drogas psicoativas sem finalidade medicamentosa, ou seja, sem o objetivo de tratar uma determinada enfermidade psiquiátrica, como, por exemplo, a depressão, a ansiedade, a insônia e a esquizofrenia.
Diferentes povos e culturas indígenas e africanas, por exemplo, fazem uso de princípios ativos presentes em plantas ou fungos, como elemento integrante de práticas e rituais religiosos, seguindo os princípios e normas inerentes às suas respectivas culturas. Na sociedade ocidental, temos o hábito de consumir cafeína, presente no café, alguns tipos de chás e refrigerantes, para eliminar o cansaço e aumentar nossa disposição física e mental. Em diferentes guerras (Guerras Mundiais e Guerra do Vietnã, por exemplo) fazia-se uso de diversos psicotrópicos, incluindo anfetamínicos, que são drogas estimulantes do Sistema Nervoso Central, com o objetivo de aumentar o vigor físico e mental durante as batalhas e para permanecer mais tempo acordado.
Faz-se uso de drogas também com finalidade estética: geralmente as mulheres fazem uso de anorexígenos, para ficarem mais magras, e os homens, esteroides anabolizantes, para ficarem mais musculosos. Muitas vezes, utilizam-se drogas para se encaixar em um determinado grupo que também faz uso da substância, por uma identificação cultural/ideológica ou com a intenção de aumentar a interação e a integração social dentro deste grupo.
Foi comum, na década de 60 do século XX, o uso de alucinógenos por parte do movimento de contracultura dos hippies, o uso de cocaína por parte do movimento dos yuppies (grupo de jovens profissionais urbanos, com perfil de ambição e sucesso financeiro), e uso de alucinógenos e estimulantes sintéticos pelos clubbers dos anos 90, utilizados em eventos festivos de música eletrônica conhecidos como raves.
A própria propaganda televisiva se utiliza da associação da droga (álcool e antigamente cigarro) com aspectos considerados positivos e atrativos (momentos de alegria e descontração, reunião com amigos, elegância, beleza, esportes radicais etc.), o que também pode influenciar seu consumo. E finalmente, a pessoa faz uso de drogas psicotrópicas pelo efeito recompensador ou gratificante que ela proporciona (sensação de prazer, euforia, melhora provisória e ilusória da autoestima), o que, de certa forma, é reforçado pela nossa cultura ocidental hedonista e imediatista.
Vale salientar que algumas pessoas utilizam drogas recreativas como uma espécie de “automedicação” para certos problemas e sofrimentos psicológicos que elas enfrentam. Por exemplo, indivíduos com ansiedade social podem fazer uso de álcool e cigarros em situações sociais. Indivíduos com depressão, por sua vez, encontram nas drogas uma melhora provisória da autoestima e da sensação de prazer que a própria condição clínica da depressão não lhes permite usufruir.
Indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade tendem a fazer mais uso de nicotina do cigarro, que pode aumentar a atenção e memória. E em todos esses casos citados, não se atentando devidamente às consequências negativas deste uso, seja a curto, médio ou longo prazo. Sendo assim, notamos que as motivações para uso não-medicamentoso de drogas psicotrópicas podem realmente ser as mais diversas.